segunda-feira, 3 de junho de 2013

EDITORIAL - ESPAÇO PARA OS SANFONEIROS DE 8 BAIXOS - PROGRAMA 09

Espaço para os sanfoneiros de 8 baixos
25 de maio de 2013


No dia de hoje queremos dividir com vocês, caros ouvintes, a nossa preocupação com a falta de espaço para os sanfoneiros de 8 Baixos apresentarem seus trabalhos. Temos acompanhado de perto, nos últimos 10 anos, em função de nossa pesquisa sobre o fole, a luta dos mestres e dos novos talentos para serem reconhecidos no mercado musical, porque sua arte está acima dessa conjuntura que reflete muito a política cultural dos governantes, e é essa política que define na maioria das vezes em nossa terra quem tem espaço e visibilidade.
A arte desse instrumento de memória oral esteve bem perto de se perder há alguns poucos anos atrás. Graças à garra de Arlindo dos 8 Baixos se dedicando a tocar, ensinar, consertar e afinar os foles; à Luizinho Calixto que, junto com a primeira gestão do Memorial Luiz Gonzaga, do Pátio de São Pedro do Recife, realizou as primeiras oficinas para repassar o conhecimento do instrumento de forma mais sistematizada em um método pioneiro que ele próprio vem desenvolvendo; à Heleno dos 8 Baixos, que junto com Valdir Santos e João Bento, montaram a primeira escola permanente para o ensino de 8 baixos no bairro de Vassoural, em Caruaru, para as crianças e jovens da comunidade, tendo um de seus alunos, o Ivison, já realizado turnê na Europa;
À Heleno Truvinca, que passou vinte anos esquecido no Rio de Janeiro, mas agora retoma sua carreira como um dos poucos, talvez o único a tocar as duas afinações para este instrumento, e mostrou esse saber que é nosso patrimônio cultural em mais de 100 apresentações pelo país afora através do SESC no projeto SONORA BRASIL; à coragem de Roberto Andrade, de realizar o 1º Encontro de Sanfoneiros de 8 Baixos no Recife; à Marcos Veloso, que continua realizando o Encontro de Sanfoneiros do Recife, este ano na sua 16ª edição, sempre convidando e homenageando os tocadores de fole; aos mestres de Santa Cruz do Capibaribe, a Terra dos 8 Baixos, que retomaram a autoestima pelo instrumento, criando a Orquestra Sanfônica de 8 Baixos daquela cidade. E tantos outros anônimos amantes do instrumento que se dedicam a colecionar e divulgar em sites, ou através de outros meios, a produção fonográfica e a história desses artistas, como o pesquisador carioca Leo Rugero, essas sementes brotaram, e hoje, as crianças e jovens voltaram a se interessar pelo instrumento, como o Trio OS  CAÇULAS DO 8 BAIXOS, de Caruaru, que já faz shows pela cidade.
É toda uma rede que permanece invisível para o grande mercado da música, e com tristeza vemos a dificuldade de inserção desses artistas nas grades de programação do São João das nossas cidades. Os cachês propostos para alguns poucos mestres consultados é aviltante, depois de tantos anos de luta e preservação de nossa identidade musical, enquanto alguns expoentes de uma música sem tradição e lastro são aclamados e agraciados com cachês exorbitantes e numerosas apresentações. Precisamos repensar certas exigências que são colocadas para os artistas receberem pelo seu trabalho, como a comprovação de cachês anteriores. Como os novos podem comprovar cachês? Como os veteranos podem ter um cachê mais decente, se estão atrelados à média do que foi proposto em anos anteriores? É uma política de congelamento de cachês para os menos influentes, com a desculpa de visibilidade e espaço?
Deixamos aqui nosso desconforto e indignação com o tratamento que vem sendo dado aos nossos mestres e artistas do fole de 8 baixos.
Esperamos que essa arte continue resistindo até que possa existir com o reconhecimento que merece.


Anselmo Alves e Lêda Dias

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